segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Breve bula

Perfume: filme protagonizado muito bem por Ben Whishaw, de bela fotografia lançado em 2006 e com final bizarro; é também motivo de atração entre pessoas. É sério.

Betânia cumpria uma espécie de ritual depois de cada banho. Usava cremes; não muitos: dois para rosto e corpo. Também passava perfume depois de cada banho. Um cheiro de lavanda que talvez só saísse de seu corpo quando do mundo físico fosse embora. Jorge também gostava do aroma de sua mulher.

Ao amanhecer, Jorge apreciava espreitar sua esposa pela fresta da porta que dava para a cozinha. O estalo dos gravetos que Betânia quebrava era um som agradável aos ouvidos do homem, logo no início das manhãs. Apesar dos confortos comuns da maioria dos lares, o casal conserva a cozinha com forno a lenha no fundo quintal da casa de arquitetura antiga – única preservada na rua.

Jorge sai do quarto e recebe da esposa uma xícara de café de sabor igualmente agradável como o som dos gravetos secos quando quebram. Dão-se bom dia.

 - Bom dia.

Senta num banco que fica do lado de fora da casa. Uma boa pergunta agora é sobre quem sentou, faz-se necessário explicar que esses detalhes não são tão importantes assim. Toma-se um café. Dá para escutara as baforadas no leite que começou a ferver.

- Não derrame!

Alimento para os cachorros. Café da manhã juntos. Ignotas conversas. Olhares e sorrisos. Vez e quando gargalhadas. Mãos. Bocas. Boca.

Como que em círculos, Jorge segue sua rotina no trabalho. No caminho de volta, dirige especial atenção às folhas secas que correm como que querendo fugir da degradação que é natural. As cigarras cantam e seu som se mistura ao das folhas. À porta de casa, o ranger do portão lembra antigos filmes de quando era criança. Talvez como de felicidade os cachorros têm a respiração acelerada. O homem chega a fechar os olhos para ouvir esse barulho. Som. O tilintar das louças é o que vem a chamar atenção dessa vez. Não se demora. Entra e fala com sua esposa. Jantar. Sala. Televisão.

Iam deitar. Com se fosse surdo, agora sentiu bem o cheiro de lavanda de sua esposa. Respirou lentamente de modo a sentir suavemente aquele cheiro. Adormeceria e pela manhã não haveria o barulho dos gravetos, nem as baforadas no leite fervente.

Talvez o cheiro ainda estivesse no corpo de sua esposa e no desespero de vê-la morta naquele fim de início de manhã, não sentira o perfume da lavanda. Ou sentiu em uma outra instância. Somente o silêncio e o cheiro de lavanda ficaram naquele ambiente.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Pensamento positivo

Sem muito o que fazer começava seus dias nas férias pegando uma xícara e a enchendo com café. Sentava no sofá da sala de sua sala. Sala marrom. Ligava a televisão e passeava pelos canais. Via imagens e escutava barulhos.
Era quase sempre agoniada devido ao "nada para fazer"? Dificilmente. Trazia consigo uma agonia fruto do que um dia começou a desejar. Dos outros. Seus pensamentos passeavam pelo que poderia acontecer se chegasse a realizar aquele desejo. Ficava i-ma-gi-nan-do idéias soltas, cenas desconexas de um dia que esperava com ansiedade. Andava pensando somente no que seria possível. Acreditava que a fizesse bem.. talvez fizesse. O tempo foi passando e ela acreditando acreditando. Não dormia, só amenizava sua agonia que insistia em perdurar. Estava fadada a somente pensar e desejar o fruto da árvore vizinha - que dizem ser sempre mais doce que o da nossa. Jurava que ia pular o muro que separava esses dois terrenos. Chegou o dia, mas não estava disponível. Enraizou em seu quintal.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

As restrições

- As limitações nos fazem produzir! Disse o René quando falava das obstruções em nossos duros caminhos produtivos.
 "Uso pessoal e intransferível".
Grafite estragado dá a impressão de escrevemos duas vezes; que nem a parafina derrentendo.
Vai ficando uma gota quenta por cima da que já esfriou. Quente. Fria. Quente. Fria. Vela.
Passando rápido, o dedo não vai queimar na chama. Da vela.
Devagar  (                                         ), queimaduras surgem; e suas bolhas d'água, tão frágeis, dizem:

- É sua, meu caro; é sua.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A conhecer



Mês do cinema no Sesc!!! Boa parte a programação é gratuita; exposições, sessões de filmes e minicurso como esse do cartaz (do qual participarei) com o cineasta René Guerra.  A quem for:
 - Até já.

domingo, 2 de novembro de 2008

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Feitura


Não satisfeitos em engordar; agora deram para perseguir, persuadir, tentam imprimir.

É que tem fermento demais, os pães além de bonitos só por fora, são frágeis. Um estalar de dedos e pronto! Tudo vira farelo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Dias

Bons dias. Devia ser um dia para o sol estar brilhando e queimando – queimando muito – passarinhos cantando, sorrisos em glorioso e majestoso excesso de sorrisos. Palavras amiguinhas.
Não era preciso. O dia é bom quando está chuvoso. Bons filmes e chocolate são as únicas coisas esperadas em excesso.

Não é que tenha lembrado. Não deu pra esquecer.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

4 minutos (vezes 4)

Tem expressão mais aterrorizante que essa? Pensa bem: o sujeito tá conversando com os colegas e eis que ele surge no final do que conseguimos distinguir da rua.
É, meu caro. Aquele sujeito, todo ousado, por ser grande, vem e impõe que você o acompanhe. A gente pára e fica com a língua pronta pra dizer:
- Quem é você?
Esperto, como só ele é,faz você perceber que tem de ir com ele.
- Vai com quem então? Tem noção do quanto pode demorar até surgir outra chance dessa?
Quantos palavrões lhe surgem? Quantos deles poderiam a ele se dirigir? Quase todos, eu bem sei.
Aí você está um pouco acima dos demais. Beleza. Também está um pouco mais rápida. E ele deixa bem claro, o máximo de vezes possível, que é graças a ele que aquele seu avanço ocorre. O patético não nota que há muitos mais ágeis que ele.
A gente só não troca por uma questão de praticidade e economia.
Vale destacar as experiências que seres da mesma estirpe que ele possuem. Já viram de tudo.

CASO 1: a esposa - já não dotada de todo o vigor estético a seu favor – tem o desprazer de encontrar seu marido com a amante; e eu estava lá...indo para escola; pobre ser com a penas treze anos teve de ver aquelas duas mulheres se agarrarem e brigarem mais que animais. E uma – a não tão linda – ainda ficou sem roupa (a amante rasgou sua blusa e como podia aquela senhora não usar um sutiã com toda aquela imensidão de seios?). Sei não. E ele lá.

CASO 2: aquela mulher que vai com a penca de filhos – penca mesmo - tipo cacho de bananas; ela vai quinze minutos depois e resolve se levantar. Ainda grita com ele e com quem o acompanha. Costuma não responder a quem lhe dá tapinhas...não é cavalo.

Quão experiente. Ira quando rasteja atrás da gente, nos encurrala e só falta dizer:
- Ou vai ou morre.
Calados a gente fecha os olhos e meio fingindo que não conhece segue. Ele todo lento, só anda fazendo barulho (parece gostar de chamar atenção). Todo mundo olha. Não vá pra janela; é que ele leva você para uns lugares onde coisas podem ser atiradas nelas. Pode ser atingido por garrafas peti e ovos – mesmo não sendo carnaval. Alguns lugares são engraçados.
Você já está lá, com ele e, em parte, nele. Pra variar um pouco o seu dia, em um determinado ponto, ele resolve não ir. Eu, tola, não posso nem reagir. Vou fazer o que? Gritar, chorar, fazer draminhas, chantagens emocionais – típico nessas situações e em determinadas localidades.
Respiro e coloco o orgulho, herdado de meu pai, em primeiro lugar. Logo outro aparece por aí. Não deve demorar muito não. Ônibus existem aos montes. Algum terá de passar... espero.



Obs.: pra brincar um pouco mais com o ser ônibus, chamo atenção para o fato de que eles querem tanto que nós fiquemos com ele que a expressão SUBI NO ÔNIBUS, é a mesma coisa de trás pra frente. Tem noção? Não dá pra descer. O caminho contrário dá no mesmo lugar de onde você partiu.



BOA VIAGEM, QUERIDO.

domingo, 5 de outubro de 2008

Mau hábito

- E aí?
- Sei não. Vê se você consegue chegar nela sem fazer muito barulho.
- Não garanto nada; ela tá acompanhada, você não tá vendo?
- Ela sempre esteve acompanhada; dá pra ser mais rápido?
- Sem estresses, beleza? Até parece que é seu nome que está em jogo.
- É como se fosse.
- Como se fosse? Não entendi.
- Vá e pare de fazer questionamentos.
- Agora você vai explicar suas frases soltas; quer dizer alguma coisa?
- Tem o que dizer não.
- Cara, você fica cheio de segredinhos. Falou com ela não foi?
- Não.
- Falou.
- Falei.
- Sério?
- Não.
- Droga.
- Vai lá logo.
- Ela se levantou.
- Acha que ela vai sair?
- Deve tá indo embora. Vou não.
- Quer o quê? Um empurrão para poder chegar?
- Não; só não acho que vai ser assim o jeito certo de ir.
- Qual o livro que você andou lendo que explica sobre “os jeitos certos”?
- Pára; sabe que isso a gente não encontra em nenhum livro e nem em um “manual”.
...

(Um dia numa livraria, em boa companhia e ouvidos que não cabiam em si. Conversa interrompida)

sábado, 27 de setembro de 2008

domingo, 21 de setembro de 2008

5 minutos

- Bom dia!
- A janela permite a entrada do sol no meu quarto pela manhã. Penso que seja melhor ir dormir e acordar na praia porque o risco de insolação deve ser menor naquela areia imunda e fétida. São sete da manhã; acordo e abrir os olhos já é motivo de alegria para o mundo. Pássaros cantam, é possível? É fácil escutar minha respiração. Suspiro e sinto o ar entrando e saindo de meus pulmões – que já devem estar consideravelmente danificados com os cigarros de meu pai. Sento na cama. Pensa que levanto? Relaxo minha coluna e deito novamente. Fecho os olhos já que não me alonguei para todo esse esforço físico de manter as pálpebras levantadas. É cedo demais para esportes. Dormir seria perder tempo. Sento e decido sair da cama. Respiro fundo. Levanto e coloco um Moto-contínuo para tocar. É obvio que volto para meu verdadeiro lar. Não demoro muito para sentar diante do espelho e começo a dar um nó em meu cabelo. Respiro fundo como o fundo do fundo do fundo poço. Agora de pé e lentamente saio, não vou fazer muita coisa. Já é sabido: café. Com a xícara na mão retorno ao ambiente irritantemente iluminado, Injuriado. Começo a andar tomando o café. Lenta. Calcei os chinelos marrons, os laranjas eram alegres demais e os brancos pálidos demais e eu demais chata pela manhã. Já ingeri algo. Acho que vou começar o dia. É. Está decidido. Atravesso o corredor em frente ao quarto; adentro no banheiro onde escovo os dentes e lavo o rosto com o fedorento sabonete de cupuaçu (nem lembro por que uso). A cortina rosa que deixa o quarto mais rosa ainda pede para ser aberta. Tola. Meu dia vai começar. Entro no quarto. Coloco o cobertor do lado do travesseiro; é que não posso deitar por cima dele. Começou. Retornamos com A volta do malandro.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

7 minutos

Faltasse a corda para a brincadeia dos pulos está por todo certinha.
Um beijo.
Opa! Calma e silêncio que faz bem.
Alguém intimida sem precisar de maiores palavras, sem delongas. Uma espécie de casmurro - assim como o machadiano - no alto de sua chatice e mau-humor intringa com o modo encantador como consegue se dirigir a alguém; olhar por vezes irritante, ouvidos - para meu prazer - atentos. Os ouvidos são necessários, mas eles nem sempre só ouviram. Na verdade, o fato de que eles bem ouviam não implicava em um completo silêncio. Gostei de ouvir algumas coisas. Interessante. Inquiridores? Não; se pudessem ser, gostaria que fossem comigo diante de um simples espelho.
Simples observações cara a cara e as palavras nem careciam ser ditas. Agir, sentir calados. Os sons do silêncio sempre nos foram mais agradáveis, menos perigosos e capazaes de transmitir as idéias tidas. Objetivas.

Obs: tenho certeza que não há de chover quando nos vermos; o tempo é mais pilantra que eu...se é.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Programinha

Passos rápidos porque já sabe o que vai acontecer. Batatas? É, por que batatas temos de passar em caixa antes de pegarmos os pães? Boa tarde. E aí, o que fazer?

a) finge que não ouve - é aceitável, a padaria está cheia mesmo;
b) não responde - mas seria tão grosseiro de sua parte;
X) respira fundo e responde - era o jeito.

Pães? Sim, sete por favor. Só?
- Não. O que é que tem mais?
Achou que fosse essa a resposta? Não. Ninguém aqui achou nada, muito menos o rapaz do caixa da padaria da esquina da rua da minha casa. Ele sabia que a resposta era transformando sua pergunta em uma afirmativa. Tolo. Para tentar falar mais um pouco, demora pra contar o troco; levanta várias notas e analisa uma por uma, como que escolhendo quais iria repassar.
- Tudo bem, com você?
Pausa para os comercias. Ou: FICAMOS (eu) FORA DO AR POR ALGUNS INSTANTES.
Um chiado e a programação volta ao normal.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Conversa com físicos

Um coelho percorre, a cada segundo,
metade da distância entre seu nariz
e um pé de alface.
O coelho consegue alcançar o pé de alface?

domingo, 17 de agosto de 2008

R//E//B//E//C//A

Rebeca espera. Pontualmente, acorda as crianças meia hora depois de também chamar o marido. Às seis, Rebeca já aguardava o retorno do pai das crianças. Ele sai às sete para o trabalho. As crianças precisam chegar cedo á escola. Não podem se atrasar. Imersa em seus pensamentos que repassavam as tarefas a cumprir naquele dia, ela volta à cozinha com o barulho dos meninos brigando para resolver quem iria sentar no lugar do pai. Ele saíra há alguns minutos. Rebeca o aguardava. Calculadamente, ela põe cada uma das crianças em seu lugar, servindo uma torrada, é lógico que a mãe já havia completado o salgado com o doce que cada uma mais gostava. Como não? Em quinze minutos eles se alimentam. Limpas com os guardanapos que haviam sido lavados no dia anterior àquele. É hora. Sai de casa. Cada uma de suas mãos guia um dos seus filhos. Ela se orienta muito bem. Bom dia, vizinha. A mesma conversa tinha início. Bom dia. Como crescem seus meninos.Obrigada, vão á escola agora. É, eu sei. Todos os dias o mesmos diálogos. Bom dia. Blá, blá, blá. Na porta do colégio, o mais velho corre ao encontro dos colegas de sala. Ajeita o cabelo do mais novo. Um beijo. Pronto. Na volta pára a fim de comprar alguma fruta fresca para o almoço. Espera agora o retorno de seus filhos. Continua esperando que seu marido regresse. Chegando em casa colocaria a casa em ordem e a preparia para o restante do dia dois filhos. Aprontaria o almoço. Tempo suficiente para chegar a hora de buscá-los. Era Rebeca. As crianças se alimentariam. Iria acompanhar seus deveres escolares, recomendados para se fazer em casa. No fim da tarde, coloca algum desenho animado para distraí-los, enquanto ela atentaria para o jantar a preparar.Termina e alguns minutos depois o marido chega para seu lar e para seus filhos. Jantam. Os meninos vão brincar na sala de visitas. O pai vê telejornal. Rebeca limpa a cozinha. Ele coloca os filhos na cama. Lê uma história. Simultaneamente ela recolhe os brinquedos espalhados pela sala. Dormiram. É hora do pai e da mãe. Eles vão descansar. O pai do trabalho. Rebeca de si.

Três


Não sou muito de escrever a respeito de filmes. Mas, nos últimos dias, três produções me encantaram. Desejo e Reparação, O caçador de Pipas (homônimo ao livro em que foi baseado) e Modigliani.
Nos dois primeiros filmes, os quais as fotos aí ao lado são de ótimas cenas respectivamente, destaco um ponto em comum: não é possível corrigir um erro. Desejo e Reparação, do diretor Joe Wright - 2007, nos traz isso em seu título, mensagem que é transmitida com a não realização de um amor devido a um erro, uma preciptação - O Caçador de Pipas (de Marc Foster - 2007) traz algo parecido, no entanto, a frustração ocorre em uma amizade que acaba sem que nem tenha sido bem vivida ( o subtítulo também confirma a afirmativa: Sempre há um jeito de reparar seus erros. Não concertá-los. Triste, mas verdadeiro.
O último, Modigliani (do diretor Mick Davis - 2004), conta a história desse pintor italiano
que sucumbiu diante dos prazeres que tanto explorava nessa vida. Passando-se na Paris de 1919, encanta, não é nem tanto pela intepretação de Andy Garcia, que é boa, como Amedeu Modigliani; mas fascina muito mais por Elsa Sylberstein, como Jeanne Hebuterne, esposa do pintor. A atriz inicia o filme com uma cena que já nos toca pelo seguinte texto denso, muito bem interpretado :
"Voce sabe o que é o amor?
O amor de verdade?
Você já amou tão profundamente que se condenou às profundezas do inferno?
Eu já."
Conflitante, emocionante (gente, é muito tocante). O filme mostra como foi atribulada a vida do pintor que tanto conflitou com Picasso que lhe foi uma tela - o artista cubista tem um quadro que elva o nome Modigliani. Algumas cenas merecem destaque, como a revelação de seu último quadro pintado, Jeanne. Não vou comentar muito, porque são filmes que valem muito a pena de se assistir, não de se ler ou ouvir histórias.

Obs.: A trilha sonora de Modigliani fica a cabo de músicas interpretadas pela francesa Edith Piaf que não precisa de comentários nem apresentações maiores.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Findando

Aperte a torneira para que não caia mais nenhuma gota.
Verifique se a porta está bem fechada.
Deu todas as voltas possíveis com a chave?
Sim?
Então coloque o cadeado nessa mesma porta.
Vá à janela e feche-a, tapando as frestas com minúsculos pedacinhos de papel.
Certifique-se também de que o basculante do banheiro está fechado.
Ou você quer que todos conheçam suas intimidades?
Seus jeitos e trejeitos?
Vede as tomadas para que ninguém se choque.
Ah, desligue o gás.
A única explosão esperada é a sua em si próprio.
Pronto.
Já pode começar.

Se vende

-Que tal?
-Não.
-Não?
(...)
-Lamento. E olhe que estamos em liquidação.
-Não vejo nenhuma garrafa que me sirva.
-Talvez o senhor não tenha procurado bem; observe mais atentamente, há de encontrar um para você.
-Dificilmente. Aqui pouco me será útil. Estão todas com alguma falta. Ou tampa, ou asa e umas outras coisas.
-Como assim? A garrafa completa?
-É.
-Meu senhor, desculpe, mas creio que entrou na loja errada.
-Como assim?
-Por que não a leva para dar seu jeito?
-Eu? Por que elas não podem vir inteiras? Se eu encontrar uma nessa bagunça...
-Porque não temos esse tipo de trabalho.

(...)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Alegria

Silêncio! Vamos, vamos! Gargalhadas são ouvidas, misturadas ao som dos pulos. Eram risos tão intensos que não tinha como se sentir envolvido e acabar, também, rindo.
O telefone cai.
Calma. Silêncio!
Foi só um sonho.

domingo, 10 de agosto de 2008

Verbo gostar

Estava procurando algumas coisas que escrevi (e que aos poucos vou colocando aqui e também novas que eu escrever) acabei encontrando isso; data de uma semana antes do meu aniversário. Recomendo leitura ágil.


Já gostei de doces, como toda criança idiota. Gostava de pentear os cabelos de meu pai e de abraçar alguns tios que não vejo há tempo. Gostava de festas. Não gostava de rosa e nenhum pouco de vestidos. Mas aos oito anos TIVE UMA COLEÇÃO DE VINTE PEÇAS (eram todos uos modelos de uma revista que minha mãe havia comprado). Sempre gostei de bichos. Gostei muito de um gato preto chamado Xandó.
Obs.: Adoro gatos.

Gostava de jogar futebol na rua (isso explica meu pé pouco bonito).

Obs.: Aprecio eufemismos; nesse caso meu pé não é feio; é pouco bonito.
Não gostava de brincar de bonecas - tinha medo de ficar esquisofrênica e tola, como a Mayra, garota que tentava ser minha amiga e me arrastar para esse universo...fresco; a garota é tola, não tenho certeza quanto ao esquisofrênica. Gostava de ir à igreja. Gostava de ler, desde cedo em público. Não gostei de saber que não seria mais a caçula, mas gostei de meu irmão quando ele saiu da fase dependente. Por falar em dependência, não gostava quando arengavam com o mais velho. Gostava de me meter e defender os meus. Sempre gostei de ser deboxada.
Mainha diz que gosto de arrumar problema. Problemática, eu? Não, imagina. Aos onze anos não gostei de meu primeiro beijo e não gostei de ficar menstruada - dá trabalho no início. Nessa mesma idade, gostei de futebol. Gostava de ficar aos domingos com meu pai na sala gritando feito louca. Gosto do Vasco e do Santos. Gosto de jogo animado. Falando em animação, aos seis anos gostava de música sertaneja; mais ou menos aos oito gostava de pagode;aos onze gostei dos Backstreet Boys; aos treze me olhei no espelho e conheci melhor o Caetano(é o Veloso mesmo).
Aos treze gostei do mesmo menino que outras duas amigas minhas - saí fora pra não ser mais um urubu em cima daquela carniça. Comecei a gostar de Língua Portuguesa e aí cogitei Letras como meu curso universitário.
Obs.: já estou nele.
Professora Rita escrevia bem e admirava a chatice dela em sala. Por falar no português, gostava de pronunciar Splite e não Sprite - broca. Não gosto que se regule o modo como se fala.
Gostei do CEFET-Al, quando lá entrei. Gostei de uns cinco amigos que encontrei lá. Gostei de como mudei lá. Passei a gostar do silêncio, mas ainda gosto de falar - a verdade é que seleciono melhor os ouvidos. Gosto de ser sincera, desde menor. Gosto do Manuel Bandeira. Hoje, ainda gosto de futebol. Gosto e uso perfumes infantis. Tenho meu quarto cor-de-rosa.
Obs.: não entendo qual a parte de não gostar dessa cor meu pai não entendeu no dia da pintura.
Gosto de escrever sem nenhum porquê específico. Gosto muito de meu pai. não gosto de minhas tias(eu sei que elas não estavam na história, mas isso é um detalhe que pode serfacilmente descartado). Gosto de alugmas pessoas. Gosto de não fazer nada. Gosto de ficar em casa. Gosto de dizer não. Gosto de não ter que dizer nada.

sábado, 9 de agosto de 2008

Veio procurando?

Não. Você não vai encontrar textos(pricipalmente poemas) bem
elaborados. Não calculo o que escrevo. Faço de acordo com o modo como as coisas
me surgem; não corrijo e corrijo, até porque, se fizesse isso, iria pôr fim em
boa parte do escrevo.
Escrevo sobre recortes que me ficam na cabeça após conversas,
encontros, filmes, músicas...após nada. Olho para uma pedra e escrevo, se assim
me der na telha.
Obs.: pedras não me inspinram assim como a Drummond.